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JOSÉ CARDOSO (1930-2013)

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José Cardoso nasceu em Portugal e, órfão de pais, mudou-se para Moçambique ainda criança para morar com os tios. A sua relação com o cinema começou na juventude, no internato de Namaacha - onde brincava de sombras chinesas com os colegas -, e nas salas de cinema de Lourenço Marques.

Premiado jogador de xadrez e cantor, a sua actividade como cineasta amador teve início na cidade da Beira onde fundou o cineclube daquela cidade, participou no movimento que construiu o cinema Novo Cine e realizou, entre outros, as curtas-metragens “O Anúncio”, “Pesadelo” e “Raízes”, marcos importantes da cinematografia moçambicana dos anos 1960.

Integrou o INC, primeiro como Director, na Beira, depois em Maputo. Realizou dezenas de documentários e dirigiu a equipa de “O vento sopra do Norte”, em 1986.

José Cardoso tem ainda vários contos publicados e um romance inédito assim como, 4 volumes de memórias que contam, na primeira pessoa, a sua maravilhosa história de vida.

José CardosoAUDIO

TRANSCRIÇÃO DO EXCERTO DA ENTREVISTA AO CINEASTA JOSÉ CARDOSO

Este excerto tem 08:43 minutos.

Nele, em sua casa, em Maputo, no ano de 2012, José Cardoso fala-nos do contexto e dos detalhes da produção da sua única longa-metragem de ficção “O vento sopra do Norte”.

A entrevista completa, conduzida pela jornalista Gabriela Moreira, tem mais de 60 minutos.

José Cardoso – Não foi “O tempo dos leopardos” que me motivou. AAMCM – Não foi? José Cardoso – Essa ideia já vinha de trás. Porque, eu não ficava muito contente e não achava justo quando os responsáveis pela área do cinema achavam que nós não tínhamos capacidade, ainda, para fazer filmes de ficção. Para fazer, como diziam, os nossos filmes! E eu achava que era preciso desapertar a bota. Que era preciso provar que, sim, mesmo com todas as dificuldades e deficiências que nós tínhamos, tínhamos já alguns anos de prática. Nenhum de nós tinha escola, tinha frequentado uma escola de cinema… A nossa escola era no INC, era a prática diária. E eu achava que nós tínhamos feito essa prática com muita vontade… muita… vontade e capacidade de nos mostrarmos autossuficientes na produção de cinema. Eu achava isso. E, portanto, não foi de facto “O tempo dos leopardos” que me motivou. Não me motivou totalmente, mas talvez… talvez tenha sido o toque. Porque também me aborrecia oque estava a acontecer. Os dirigentes queriam filmes moçambicanos de ficção. Mas procuravam chamar realizadores estrangeiros para fazer esses filmes. Eu acho que eles, de facto, tinham a ideia que nós ainda não estaríamos capacitados para fazer filmes de ficção. E que o nosso desejo de fazê-los era, uma utopia. A partir de uma certa altura. A partir da morte de Samora Machel, eu comecei a notar um certo desinteresse da parte dos governantes, em manter aquela máquina do Instituto Nacional de Cinema. Eu, quando comecei a escrever o guião para uma curta metragem, de ficção, a ideia que tinha era de que não me autorizariam a fazer uma longa-metragem. No entanto, curiosamente, o nosso Ministro da Informação na altura, José Luís Cabaço, um grande conhecedor de cinema, a quem nós tínhamos que mandar os guiões para aprovação – mandei-lhe o primeiro guião, que seria uma curta-metragem, ele entusiasmou-se a ler o guião e, como tinha vivido aqui em Lourenço Marques a época que eu vivi – da debandada geral dos colonos e as razões dessa debandada – ele entusiasmou-se e lembrou-se de outras situações que não estavam no guião. Então, mandou-me o seu parecer, acrescentando essas lembranças. Em princípio tive ofertas de preparação de actores, que me falharam. E então tive que eu próprio assumir a direcção de actores. Eu com o… Muitas cenas foram filmadas no exterior, e nós não tínhamos capacidade para mandar parar o trânsito e outros ruídos que aconteciam. Normais, na cidade. E então, os diálogos captados nessa situação, como na Baixa, por exemplo, saíam sujos. AAMCM – Têm ruído… José Cardoso – Sujos de outros ruídos. E então fui obrigado a fazer uma coisa. Nós fomos obrigados a fazer uma coisa que nunca tínhamos feito. Eu sabia, mais ou menos, como era feita. O Gabriel também tinha umas noções sobre isso e…. entregámo-nos ao trabalho. Que era o quê? Arranjar uma máquina, inventar uma máquina, porque nós não conhecíamos. Elas existiam mas não conhecíamos nenhuma – inventar uma máquina que nos permitisse dobrar as vozes dos actores em estúdio. Isso foi uma trabalheira… E mais uma vez, o grande trabalho, o maior trabalho foi com o velho. Com o pai. E então consistia em quê? Em loopings da filmes, pedaços de filmes, que passavam numa máquina que nós inventamos, constantemente. O actor estava em pé a ver a projecção desse pedaço de filme – onde ele entrava a dialogar – e ele ouvia tantas vezes quantas achasse que estava pronto a falar, sobre aquela voz. E então, quando ele estava pronto para falar, para cobrir aquela voz, fazia-o. E eu estava a ouvir, a escutar uma voz e outra. E foram várias vezes repetidas até à altura em que eu dizia: “Ok, está certo. Está correcto.” E aí havia, havia algumas dessincronizações. Mas pequenas. Masd foi o melhor que se pode fazer. E foi uma máquina que nós inventámos lá. AAMCM – Que passou a ter o seu nome…? José Cardoso – Acho que foi o Gabriel que lhe deu o nome de “Cardex”. Ela (Laura) é que conhece melhor isso porque era… Era chefe da distribuição e controlava essa área. Mas pelo que me lembro, o filme teve praticamente sempre com enchentes, durante um mês e a totalidade dos espectadores foi pouco mais 100 mil. AAMCM – Cem? É diferente do que eu tinha visto José Cardoso – O resto das províncias não sei. A Laura é que… AAMCM – O filme foi a quais províncias? À Beira? José Cardoso – Beira. Eu penso, a ideia com que eu fiquei é que a distribuição não foi muito bem feita por todo o país. Houve províncias do país que nunca viram o filme. AAMCM – Podem ver agora. José Cardoso - Podem ver agora. ...

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